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segunda-feira, 2 de julho de 2007

Da relação com a televisão à morte do jornal impresso

No capítulo 2 do livro A arte de fazer um jornal diário, subtítulo Valores preservados, o jornalista Ricardo Noblat se refere à importância da imprensa para validar os fatos. Segundo o autor, antes da existência da televisão, as situações só ganhavam o status de acontecimento quando publicados nos jornais. Depois, esse papel começou a ser da televisão.

A partir disso, a mídia impressa passou a se pautar pelos telejornais e demais programas televisivos. E essa relação entre as duas mídias, na visão do autor - com a qual compactuo -, é o principal problema do jornalismo praticado atualmente nas redações.

O jornalista retrata, então, o que leva a televisão a veicular determinados fatos. Fica claro que o perfil da televisão é diferente do jornal. No primeiro, a audiência determina a importância do veículo. No segundo, não. Um jornal pode ser o mais influente de uma região sem ser o mais lido.

Essa situação – de precisar excessivamente da audiência para se firmar – faz com que o interesse da televisão pelos fatos seja meramente mercantil. Ou seja, é notícia o que dá altos índices no Ibope, não o que faz diferença na vida de mais pessoas, como aprendemos na faculdade sobre graduação de notícia. Esse deveria ser um dos diferenciais favoráveis aos impressos. Mas os próprios profissionais dessa mídia não se ocupam do tema.

Os jornais não dão a notícia em primeira mão: a Internet e o rádio, pela instantaneidade, são os primeiros. A televisão vem a seguir. O impresso só circulará amanhã com as notícias de hoje. Esse tempo deveria privilegiar a investigação, o trabalho aprofundado de reportagem, a pesquisa histórica, tornando o jornal diferente das outras mídias e não sua mera continuidade.

Entender esse processo e pensar em como modificá-lo é o papel dos novos jornalistas como nós. O tema deve estar presente nos meios acadêmicos, sindicais e dentro das redações, afinal o impresso está morrendo - Ricardo Noblat cita dados sobre a queda na venda e na publicidade dos jornais. E a principal causa para isso é não ter percebido o seu lugar dentro de um novo cenário. Se não quisermos ser a geração que ajudou a enterrar os jornais, tomarmos para nós o desafio de mudá-los é o primeiro passo.

PS: O livro A arte de fazer um jornal diário, de Ricardo Noblat, é leitura obrigatória para estudantes e profissionais do Jornalismo. Texto bem escrito somado a boas idéias.

Um comentário:

Fabricio Olivetti disse...

O que mais me dá medo no jornalismo atual, tanto impresso como televisivo, é a ânsia em dar as notícias em primeira mão e não verificar a acuidade dos fatos.
Vemos muitos sites destinados a gerar trotes e espalhar notícias falsas pela internet tentando afetar os jornais sérios. É espantoso como eles conseguem afetar até mesmo a mídia impressa que tem um tempo maior para respirar e averiguar os fatos.
Acho que isso cai no questionamento do seu texto anterior...que espécie de profissionais estão sendo formados para o nosso futuro? A resposta está ai: profissionais despreparados, desinteressados e preguiçosos.

O problema começou quando resolveram que quem dita o que é publicado é o gosto do povo e não a relevancia em nossas vidas...

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