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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Para o Ano Novo...

MC querida, dá licença, mas vou copiar. By Fernanda Young.

Para o Ano Novo...

E aí, quais são as novidades? Vai se fazer de misterioso mais uma vez? Ando curiosa para saber o que você pretende comigo.
Não quero parecer ansiosa, mas estou contando os dias para a sua chegada. Acho até que vou colocar uma roupa nova para esperar você na entrada; faço questão de que me encontre bonita.
Para começarmos com o pé direito, como você gosta, vou comprar uma garrafa de champanhe; brindaremos à nossa saúde no momento em que cruzarmos os olhos. Feliz - é assim que eu o quero, Ano Novo, e farei tudo ao meu alcance para que isso seja possível. Se dependesse de mim, sua estadia entre nós seria uma alegria após a outra. Receio, porém, que de mim pouco dependa.
Por exemplo, sendo você ano de eleições, haveremos de manter contato com as duas piores coisas que existem no nosso país: os políticos e os horários políticos obrigatórios. É realmente uma pena que você e o Ano Velho não tenham chance de se encontrar, pois ele, que está de saída, poderia lhe contar como ficou marcado para sempre pela corja da corja que aqui ele conheceu. Ou há gente pior do que a que rouba de hospitais públicos e depois se faz de vítima nos palanques?
Pois bem, fora essas e mais uma meia dúzia de prováveis tragédias mundiais, não prevejo outros problemas no decorrer de sua presença. Na verdade, com a quantidade de festejos e comemorações com que o enchem aqui no Brasil, você passa entre nós quase sem ser percebido. Quando começarmos a nos restabelecer das festas da sua chegada, já estaremos no Carnaval. Depois, vem o feriado da Semana Santa, e aí são as férias de julho, e, de repente, você já está arrumando as malas para ir embora.
Falando nisso: gostaria de dizer que eu não tenho expectativas em relação ao que você vai me trazer, mas tenho. Principalmente porque você sabe tudo de que eu preciso e tem espaço suficiente para que várias dessas coisas caibam.
Sabe também que eu não sou muito fã de surpresas, então não se esforce demais para me surpreender. Se por acaso me trouxer algumas más notícias, tudo bem, mas tente não ser abrupto. Sei que vários problemas estão fora do seu alcance; portanto, prometo não me aborrecer caso algo não venha como eu esperava.
Traga o que trouxer - fique tranqüilo -, você será recebido com foguetes. Pois sua chegada, sempre tão pontual e garantida, com suas promessas, sempre tão amplas e verdadeiras, renova, em todos nós, a esperança que vai-se embora, um pouco, a cada dia.

E, ai, ai, ai ai, está chegando a hora.

P.S.: caso venha com muito dinheiro no bolso, conforme espero, cuidado com os assaltos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O rancor e o perdão

Sempre achei que o pior sentimento que alguém poderia ter em relação a outra pessoa é a raiva. Andei revendo meus conceitos e percebi que existe um pior. Mais maléfico, mais difícil de curar, mais doentio: o rancor.
O rancor freqüentemente - e, talvez, exatamente por isso seja tão nefasto - está associado à raiva e à mágoa. Segundo o Instituto Marla Gass de Pesquisa sobre Relações Humanas, predispõe ao desenvolvimento de gastrite, palpitação, arritmia cardíaca, úlcera. Corrói as relações, apaga as lembranças boas, torna as pessoas mais amargas. Dá dor no peito e no estômago. Faz mal.
A cura, conforme o IMGPRH, vem do perdão. Do perdão aos seus erros e aos alheios. Da compreensão de que, a princípio, todo mundo quer fazer o melhor que puder. E que, às vezes, o entendimento sobre o que é o melhor seja diferente. E, ainda, mesmo que não se tenha tentado ser bom, isso não faz diferença. A diferença é como a gente resolve enxergar cada situação.
Perdoar não é fácil. É um processo lento, gradual, que exige esforço, um certo grau de desprendimento e altas doses de compaixão. Mas é necessário. E faz com que se comece cada ciclo com o aprendizado genuíno. E nada mais. Porque nada mais é necessário.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Não olhe o passado

Calma, isso não é um texto de auto-ajuda, com dicas óbvias sobre o que você deve fazer para ser feliz! É apenas minha humilde opinião sobre um filme de que não gostei: O Passado, de Hector Babenco.
O filme tem uma chamada interessante - a separação também pode ser parte de uma história de amor - e sugestiva. Mas a história fica apenas na promessa. Uma mulher abandonada obcecada em ter seu homem de volta; um homem inerte, que tem sua vida conduzida por aquelas que se apaixonam por ele; uma ode à persistência - ainda que ela vire chatice ou doença.
Não me trouxe reflexões, não me distraiu, não me encantou, no máximo, me divertiu em duas ou três cenas absurdas. Assim, não vejo motivo para recomendá-lo.
Deveria ter ido ver Tirando onda...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Saber

Por mais que eu soubesse que tudo o que eu sentia não havia morrido;
Por mais que eu soubesse que, mais cedo ou mais tarde, ele teria outra;
Por mais que eu soubesse que as palavras dos últimos meses foram proferidas com doses generosas de hipocrisia;
Por mais que eu soubesse que não deveria querê-lo mais;
Por mais que eu soubesse que ele não é o homem ideal pra mim;
Por mais que eu soubesse que essa história já acabou;

Não pensei que doeria tanto.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Também vai pegar você!

"Tropa de elite, osso duro de roer / Pega um, pega geral, também vai pegar você"

O filme Tropa de Elite é um tapa na cara. Principalmente, para nós, a classe média, que se acha a grande injustiçada desse mundo capitalista cruel.

O filme Tropa de Elite foi acusado de ser facista. Ora, facista é a sociedade que gera os capitães Nascimento e os Baianos da vida. Tropa de Elite é franco, é sem rodeios. Mostra para o mundo uma faceta da realidade que sempre esteve oculta: a contribuição que a classe média e alta dá para a manutenção do tráfico de drogas e de tudo que ele representa.

Além disso, faz o público ver e entender o que se passa com o outro lado da história: o policial. Os últimos filmes a respeito tinham como enfoque a visão dos bandidos ou da comunidade favelada. Dessa vez, ouve-se uma outra voz. Uma voz que grita pedindo socorro. O BOPE todo é limpo? Provavelmente não. A PM toda é suja? Provavelmente não. Mas a função da arte é essa: "carregar nas tintas" para chamar a nossa atenção.

Se Tropa de Elite não valesse pelas atuações brilhantes, pela fotografia sufocante no tom certo, ainda assim teria cumprido a sua missão: provocar o debate. Nunca discutiu-se tanto o papel da polícia, sua falta de treinamento, sua remuneração aviltante, o papel do povo do asfalto. Nunca se procurou tanto, na sociedade civil, uma (ou duas, ou três) solução para o tráfico.

Uma discussão tardia, mas ainda assim fundamental.

A frase que marcou, entre tantas: "Quantas crianças nós vamos perder para o tráfico para que playboy possa enrolar o seu baseado?"

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

40 anos sem Che

Che Guevara é um herói. Não discuto aqui se concordo ou não com seus ideais e atitudes. O fato de ele ser um heróis está acima disso. É um herói porque fez o que achava que tinha que ser feito, arcando com as conseqüências disso.
Che Guevara é um ícone. Remete a um tempo em que as pessoas - em especial, os jovens - lutavam pelo que acreditavam. Literalmente, porque pegaram em armas e colocaram suas vidas em risco.
Onde foi parar esse poder, essa mobilização? Em poucos momentos da história a juventude esteve apática, tão individualista quanto nesse 2007.
Essa sociedade capitalista - que Che tanto combateu - produziu danos maiores do que o próprio Che poderia imaginar, nas suas mais pressimistas previsões. Gerou jovens preocupados apenas com seu umbigos, com seu futuro, quando muito (afinal, às vezes, nem com seus próprios futuros não se preocupam). Gerou pais inseguros e nada inspiradores, oprimidos pela luta constante e inglória por dinheiro, motor que move o mundo.
Gostaria que a passagem dos 40 anos sem Che fosse o momento para a juventude rever seus projetos de vida e de país e questionar o que está fazendo para tornar esse mundo mais justo, mais humano.
(Só para registrar: escrevo isso durante uma palestra promovida pelos partidos de esquerda e movimentos sociais, celebrando Ernesto Guevara de La Serna e desejando que ele não seja apenas mais uma estampa de camiseta, símbolo de um inimigo que ele sempre combateu. Posso estar um pouco, digamos assim, influenciável...)

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

"Não à renovação da concessão da RBS!" Não?!

Está marcado para hoje um protesto em frente à sede porto-alegrense da RBS - afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Exige-se que não seja renovada a concessão da RBS que, segundo o texto que circula pela web, vence hoje.
Como uma democrata - ou seja, uma defensora da democracia e não uma filiada àquele partido que há pouco mudou de nome - questiono: por quê? Lutarei sempre para que todos tenham o direito de expressar sua opinião, ainda que eu não concorde com ela!
Esse momento deveria ser aproveitado par aprovocar a discussão acerca da partidarização das concessões (públicas - lembre-se!) de rádio e televisão e da democratização da comunicação. Para que, assim, mais gente possa dizer o que pensa sem precisar apelar para o círculo ainda estreito da internet.
Dizer simplesmente "abaixo a RBS" está mais perto das anarquias ou das ditaduras. Querer calar quem pensa diferente me assuta: é atitude típica de regimes totalitários, sempre abomináveis. Como fez Chávez ao fechar a RCTV. Por que ele não criou um canal estatal para mostrar a sua versão dos fatos? Parece-me um pouco atitude de quem simplesmente não tem o que mostrar...

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Só de sacanagem!

Nada do que eu escrevesse traduziria tão bem o que estou sentindo! Descaradamente inspirada no Uzina, do meu amigo Juliano Rigatti.

Só de sacanagem
(Por Elisa Lucinda)

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta a prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro. Do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta a prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e todos os justos que os precederam. ‘Não roubarás!’, ‘Devolva o lápis do coleguinha’, ‘Esse apontador não é seu, minha filha’. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar! Até habeas corpus preventiva, coisa da qual nunca tinha visto falar, sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará! Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear! Mais honesta ainda eu vou ficar! Só de sacanagem!
Dirão: ‘Deixe de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba! E eu vou dizer: ‘Não importa! Será esse o meu carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.’
Vamo pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal.
Dirão: ‘É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!’
E eu direi: ‘Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!’ Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quizer, vai dar pra mudar o final!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Tristeza

13h, 30° lá fora. Mas eu sinto frio. Um frio que não passa porque vem da alma.
Tristeza. Solidão. Minhas companhias dos últimos dias.
Sinto uma dor tão grande. Um amor tão grande. Não sei o que fazer com todo o amor que eu sinto. E cuja capacidade de sentir eu desconhecia ter até sentir.
Mas é um amor solitário. Eu não fui amada. No máximo, uma paixonite que terminou e alguém não teve a coragem de denunciar.
Estou triste porque amo e não devo. Amo e não quero. Amo e não posso. Sei que ninguém morre de amor, mas é tão dolorido passar por isso. E termina quando? Mas tudo bem, eu sei que termina.
Ainda bem que tenho amigos. Amigas. Para me distrairem e não me deixarem ficar pensando nisso. Nas coisas boas e nas ruins.
Foi tão pouco tempo. Não chegou a um ano. Que desperdício. Mas valeu. Não me arrependo. Aprendi.
Mas tá doendo...

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Ajuntando...

No dia 1º de agosto, as escolas estaduais gaúchas voltaram às aulas. Os alunos tiveram uma surpresa: turmas que estavam pequenas até o ínicio das férias de inverno foram reunidas em turmas que podiam variar entre 35 e 50 alunos na mesma sala. Em alguns casos mais graves, séries diferentes passaram a estudar na mesma sala. A medida foi implementada a mando da governadora Yeda Cruisus e da secretária de Educação Mariza Abreu, sob o argumento de que há falta de professores, o Estado não tem recursos para contratar mais e precisa reduzir os contratos emergenciais. Assim. Sem discutir com ninguém. Sem avisar ninguém.
Mais uma vez, quem pagou o ônus da incompetência administrativa dos gestores estaduais foi a parte mais fraca: os alunos. Será que Yeda realmente acredita que vai contribuir para a falta de professores?
Existem, atualmente, cerca de 88,5 mil professores ativos no Rio Grande do Sul. Desses, quase quatro mil estão em algum tipo de licença - muitas vezes, remunerada - e outros 19 mil estão em desvio de função. Aqui, há uma grave distorção.

Estado quebrado
Que o Rio Grande do Sul enfrenta um déficit histórico gigantesco, não é novidade para ninguém. O grande problema é que Yeda Crusius passou toda a campanha eleitoral de 2006 falando em eficientizar a máquina pública, em mudanças estrutuais. Juntar dezenas de alunos na mesma sala de aula é dar qualidade ao serviço público? Muda a estrutura do ensino provido pelo Estado?
Nos primeiros seis meses de governo, Yeda cortou os gastos com publicidade, cortou diversos CCs e ordenou que todas as secretarias cortassem 30% de seu custo. Ok, muito bem. E o que mais? O cerne da questão não foi mexido.

Alternativas
Os servidores inativos representam, hoje, a maior fatia da folha de pagamento e não devem parar de crescer, afinal os funcionários públicos todos vão se aposentar um dia. O que está sendo feito para lidar com isso? A governadora vendeu ações preferenciais do Banrisul, amealhando em torno de R$2 bilhões para aplicar num fundo para pagar pensões e aposentadorias. O problema é que a mocinha ainda não remeteu à Assembléia Legislativa um projeto de lei que detalha como deve ser a aplicação desses recursos. Ainda, não reuniu os deputados da base aliada para articular a aprovação do projeto que ela vai mandar. Pior, segundo cálculos da imprensa gaúcha, esse dinheiro se esgota em SETE anos. O que se fará depois?
Está na hora de o Governo do Estado encarar com seriedade a questão dos inativos. Entendo que deva ser criado um fundo previdenciário, à semelhança dos fundos Previ, Funcef e Petros, cujos recursos são aplicados por gestores para garantir que os funcionário de Banco do Brasil, Caixa e Petrobras tenham recursos para as suas aposentadorias, independentemente da situação do caixa do Governo Federal.
Utilizar ferramentas de e-gov, estabelecer metas de produtividade e qualidade, além da meritocracia no serviço público, fazer Parcerias Público-Privadas. Há tantas ferramentas que Yeda, por ser economista, conhece mais do que eu. Mas começo a desconfiar de que ela as esqueceu em algum banco da Faculdade de Economia da UFRGS...

quinta-feira, 26 de julho de 2007

E agora, Jobim?!

Lula empossou Nelsou Jobim ministro da Defesa - ou, como genialmente escreveu hoje o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, "Jobim assume a crise aérea". Autoridade, inteligência, disciplina. Essas são as principais palavras associadas a ele.

Autoridade. Do Houaiss, direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer. Isso anda em falta no Brasil, principalmente no que se refere à crise aérea. Alguém que tome decisões, cobre realizações e assuma conseqüências. Pode ser bom.

Inteligência. Do Houaiss, faculdade de conhecer, compreender e aprender. Isso anda muito em falta no Brasil, principalmente no que se refere à crise aérea. Conhecer os problemas, compreender as atitudes necessárias e aprender com os erros, seus e dos outros. E para não falar / fazer abobrinhas. Pode ser bom.

Disciplina. Do Houaiss, obediência às regras e aos superiores. Isso anda muito em falta no Brasil, principalmente no que se refere ao poder público. Disciplina para cumprir o combinado, para cumprir a lei. Pode ser bom.

Autoridade, inteligência, disciplina. É disso que o Brasil, principalmente o setor aéreo, precisa nesse momento. Há quem diga que ele não tem competência para organizar um setor em crise há tempo demais. Que lhe falta conhecimento sobre aviação. Bom, se isso fosse sinônimo de sucesso, Juniti Saito e o brigadeiro José Carlos Pereira, homens do ar, teriam impedido que a situação chegasse onde está.

“Nunca se queixe, nunca explique, nunca se desculpe. Aja ou saia. Faça ou vá embora”, afirmou Jobim, reproduzindo uma frase do ex-primeiro ministro inglês, Benjamim Disraelli. Gostei.
Jobim não vai salvar a pátria. Mas talvez leve um pouco de ordem a esse caos. Talvez, seja um gestor, no mais amplo sentido da palavra.

Pelo bem do Brasil, desejo-lhe sucesso.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Dia do Amigo

Recebi via internet, há muito tempo, um texto que se chamava Meus secretos amigos, ou algo parecido. Fala exatamente o que penso dos meus próprios amigos. O autor diz, mais ou menos, isto:
Amo-os. Sempre. Mesmo aqueles que eu não procuro. Torço, ainda que à distância, pelo seu sucesso, vibro com suas conquistas, compartilho suas tristezas. Me deixa feliz apenas sabê-los vivos. Às vezes, penso que deveríamos nos ver mais, mas a vida tem dessas coisas de nos afastar de quem gostamos.

Para completar esse Dia do Amigo, poesia:

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Soneto do amigo, de Vinicius de Moraes

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sensacional...

Eu poderia aqui levantar mil hipóteses, bradar hinos de revolta, tentar encotrar palavras de consolo às famílias. Só não posso é silenciar diante do absurdo que foi o acidente com o vôo JJ 3054 da TAM. Já tive pensamentos mil. Julguei, absolvi e condenei. Mas guardo as sentenças comigo.
Como (projeto de) jornalista, escolhi outro prisma para esse fato. Decidi analisar a atuação dos nobres colegas diante da tragédia. O que se viu desde às 19h07min de terça-feira - quando o plantão da Globo foi ao ar pela primeira vez - foi despreparo e sensacionalismo. Pelo menos na maioria dos jornalistas.
Despreparo para lidar com o ao vivo. Falta de improvisação. Gaguejar, principalmente diante de tão tristes informações, é normal. É humano. O que me espantou foi a péssima ordenação das idéias e a falta de criatividade - em alguns casos, até de bom senso - nas perguntas durante as entrevistas. Não sabem lidar com a falha, seja sua ou técnica. Esse povo de televisão está muito acostumado ao gravando. Isso é um perigo.
Sensacionalista. A princípio, este é o mote de todo jornalismo: provocar sensação. Mas esse termo tornou-se pejorativo, relacionando-se àqueles que usam quaisquer artifícios por audiência. E eu vi isso durante essa semana. Mostrar, repetidas vezes, famílias se contorcendo da dor da perda sempre precoce de seus amados é, no mínimo, falta de respeito. Não acrescentou nada à notícia. Não nos deixou mais chocados, porque os telespectadores já estavam às lágrimas. E perdeu a oportunidade de fazer bom jornalismo sem usar pessoas.
Fiquei preocupada. Torço e faço o que estiver ao meu alcance para que a academia perceba que tipo de profissionais estão formando. E para que os profissionais atentem para o que estão fazendo.
Informação, sim. Desrespeito, não, obrigada.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Esclarecimento

Diversas pessoas - pouco ou muito esclarecidas - têm afirmado que restringir o horário do transporte de valores não resolve o problema da segurança pública. Ora, ninguém imaginou que resolveria! Para isso, como bem afirmou Políbio Braga na sua newsletter dessa segunda-feira (9), é necessário vontade política e competência para fazê-lo.
Mas, enquanto esse governo - bem como a maioria dos que o antecederam - não evolui nos quesitos citados, a sociedade não quer se deparar com pessoas morrendo a cada semana em situações que poderiam ser facilmente evitadas. Os familiares e amigos de Cristiana Cupini não pretendem solucionar o problema da segurança pública com a alteração dos horários do transporte de valores. Querem apenas que menos gente fique exposta ao risco de assalto.
Os ataques a carros-fortes provavelmente não cessarão nunca. O PLCL 06/07 - projeto do vereador Professor Garcia (PPS), em tramitação da Câmara Municipal de Porto Alegre - só pretende evitar que a população desprotegida fique à mercê do tiroteio. Deixemos esse risco restrito aos vigilantes, treinados e equipados para enfrentá-lo, à Brigada Militar (um pouco menos equipada, mas também treinada) e até à Guarda Municipal porto-alegrense, que já tem licença para utilizar armas.
Não vamos resolver o problema, vamos minimizá-lo. É apenas isso que podemos agora.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

PASSEATA POR CRISTIANA CUPINI

Neste domingo, 8 de julho, a partir das 17h30min, será realizada uma passeata em memória de Cristiana Cupini (leia post abaixo). A saída é da frente do Unibanco da avenida Assis Brasil, onde Cristiana foi assassinada. Já estão confirmadas as presenças do Prefeito e do Vice-prefeito de Porto Alegre. Depois, ocorrerá uma missa por Cristiana, às 19h, na Igreja Cristo Redentor.
Quem puder, participe.
Na ocasião, circulará um abaixo-assinado para aprovação do projeto de lei complementar 06/07, para restringir a circulação de carros-fortes em locais de grande circulação de pedestres.

De uma família dilacerada

"Na última segunda-feira, 3 de julho, nossa querida KUKI foi vítima de uma tragédia que está mobilizando a opinião pública. Ela foi assassinada em meio a um tiroteio num assalto frustrado a um carro-forte.
Cristiana Cupini foi mais uma vítima do descado com a segurança pública e da impunidade. Não podemos cruzar os braços diante de mais esse absurdo.
Estamos iniciando um abaixo-assinado para que o projeto de lei que proíbe o transporte de valores em horário comercial seja votado e implantado com urgência, para que mais vidas inocentes não sejam ceifadas e famílias inteiras dilaceradas."

Eu não conheço Cristiana Cupini. Tenho alguns amigos que são próximos da família dela. Mas não faz diferença. Cristiana tinha 22 anos, trabalhava em uma loja de uma grande rede de departamentos, cursava Administração de Empresas em uma faculdade particular, tinha namorado. Tinha ido ao banco fazer um depósito. Familiar essa situação, né?! Poderia ser eu, meu irmão, seu irmão, você. Ela foi morta com um tiro na cabeça por um assaltante que fugiu. Isso é justo? Não.

Não podemos mudar os fatos. Mas podemos evitar que eles voltem a ocorrer. Há um projeto de lei em tramitação na Câmara Municipal de Porto Alegre, de autoria do vereador Professor Garcia (PPS), que restringe a circulação de carros-fortes em horário comercial nos locais de grande circulação de pedestres e próximo a escolas. Isso não evitará os assaltos a carros-fortes, mas poderá expor menos gente ao risco. O projeto já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e deve ir a plenário em breve. O abaixo-assinado da família Cupini pretende agilizar esse processo. Eu vou assinar. Quem sabe, assim, evitamos mais famílias chorando a morte de seus queridos.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Liberdade - Igualdade - Fraternidade

A Petrobras anunciou, recentemente, que os seus funcionários podem incluir parceiros do mesmo sexo como dependentes no plano de saúde. Infelizmente, isso ainda é notícia, quando deveria ser obrigação das empresas reconhecerem parceiros do mesmo sexo como constituintes de uma família. Pelo menos, o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) também já adotou esse princípio de igualdade para pagamento de pensão.
Que bom, o País avança no sentido da tolerância, da liberdade. Mas não avança muito.
Foi rumor em todas as mídias o fato de que o jogador Richarlyson, do São Paulo, seria homossexual. Houve um disse-que-disse, porque o Richarlyson mesmo não falou nada e não vai falar. A pérola da semana saiu do empresário do jogador: "Isso é boato. Eu conheço o caráter dele". Então!!! Orientação sexual agora é questão de caráter?!?! Homossexual não é boa gente?! Em que mundo esse senhor vive??!!!!!! Eu espero, sinceramente, que as ONGs da causa GLTB se manifestem e processem esse infeliz. Isso não vai mudar o que ele pensa, mas pelo menos o fará pensar duas vezes antes de expor os seus preconceitos.
Enfim. Igualdade e liberdade em um momento. Discriminação e intolerância a seguir. Ainda estamos longe de uma sociedade verdadeiramente humana.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Distorções II

Segundo pesquisa divulgada nessa semana pela Universidade de São Paulo (USP), 76% dos brasileiros desconfiam do Congresso Nacional. Dando uma olhada no noticiário recente - entenda-se por recente desde o início de 2006 -, não é difícil encontrar a razão. Notas frias para comprovar gastos incompatíveis, divisão de R$ 2,2 milhões de origem desconhecida, compra de dossiês, hipótese - derrubada, graças aos céus e à imprensa - de aumento de 98% nos próprios salários. Enfim, um festival de usurpação, corrupção, impunidade e cara-de-pau.

O difícil é acreditar que mesmo reprovado, o Congresso Nacional continue agindo da mesma maneira. Engavetamento de denúncias, relativização de escândalos... A reforma política, que tentaria trazer um pouco de moralidade a esse deboche parlamentar, foi esquecida, abafada pelas suspeitas envolvendo nobres Senadores da República. Faltando duas semanas para o recesso de inverno, artimanhas para prolongar o assunto até lá não vão faltar. Para, então, caírem no esquecimento enquanto se aguarda o próximo escândalo. E, mais uma vez, os suspeitos não serão investigados, os culpados não serão punidos e os patetas-eleitores voltarão a se preocupar com o próximo casamento entre as celebridades.

É, Herbert Viana, que país é esse?!

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Da relação com a televisão à morte do jornal impresso

No capítulo 2 do livro A arte de fazer um jornal diário, subtítulo Valores preservados, o jornalista Ricardo Noblat se refere à importância da imprensa para validar os fatos. Segundo o autor, antes da existência da televisão, as situações só ganhavam o status de acontecimento quando publicados nos jornais. Depois, esse papel começou a ser da televisão.

A partir disso, a mídia impressa passou a se pautar pelos telejornais e demais programas televisivos. E essa relação entre as duas mídias, na visão do autor - com a qual compactuo -, é o principal problema do jornalismo praticado atualmente nas redações.

O jornalista retrata, então, o que leva a televisão a veicular determinados fatos. Fica claro que o perfil da televisão é diferente do jornal. No primeiro, a audiência determina a importância do veículo. No segundo, não. Um jornal pode ser o mais influente de uma região sem ser o mais lido.

Essa situação – de precisar excessivamente da audiência para se firmar – faz com que o interesse da televisão pelos fatos seja meramente mercantil. Ou seja, é notícia o que dá altos índices no Ibope, não o que faz diferença na vida de mais pessoas, como aprendemos na faculdade sobre graduação de notícia. Esse deveria ser um dos diferenciais favoráveis aos impressos. Mas os próprios profissionais dessa mídia não se ocupam do tema.

Os jornais não dão a notícia em primeira mão: a Internet e o rádio, pela instantaneidade, são os primeiros. A televisão vem a seguir. O impresso só circulará amanhã com as notícias de hoje. Esse tempo deveria privilegiar a investigação, o trabalho aprofundado de reportagem, a pesquisa histórica, tornando o jornal diferente das outras mídias e não sua mera continuidade.

Entender esse processo e pensar em como modificá-lo é o papel dos novos jornalistas como nós. O tema deve estar presente nos meios acadêmicos, sindicais e dentro das redações, afinal o impresso está morrendo - Ricardo Noblat cita dados sobre a queda na venda e na publicidade dos jornais. E a principal causa para isso é não ter percebido o seu lugar dentro de um novo cenário. Se não quisermos ser a geração que ajudou a enterrar os jornais, tomarmos para nós o desafio de mudá-los é o primeiro passo.

PS: O livro A arte de fazer um jornal diário, de Ricardo Noblat, é leitura obrigatória para estudantes e profissionais do Jornalismo. Texto bem escrito somado a boas idéias.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Distorções

Junho de 2007, Barra da Tijuca, zona nobre do Rio de Janeiro. Uma empregada doméstica aguardo o ônibus que a levaria ao médico. Levaria. Um bando de universitários inconseqüentes encosta o carro e a espanca. Motivo? "Achamos que ela era prostituta".

Junho de 2007, Dom Pedrito, interior do Rio Grande do Sul. Garotos falam sobre o futebol gaúcho, de intensa atividade nos últimos tempos. A conversa evolui para a discussão. A discussão desemboca (dizer evolui seria uma ofensa) em pancadaria. Um dos meninos, negro, é espancado até agonizar. Apesar de ser levado ao hospital, não resiste. O médico legista se impressiona com o estado dos pulmões da vítima, destruído pelas costelas quebradas a chutes.

Em ambos os casos, garotos de classe média alta. Em ambos os casos, vítimas inocentes. Em ambos os casos, desrespeito ao outro. A justificativa de que pensaram que era uma prostituta aumenta a sensação de absurdo. E se fosse uma prostituta, merecia apanhar então??? O pai de um deles argumentou que seu filho não era um marginal para ir para a prisão. Ora, se não é um marginal, o que é então? Esse pai deveria ter sido preso junto, afinal não passou valores éticos e morais para seu filho. É co-responsável pela quase tragédia, que se consumou em Dom Pedrito.

Liberdade em excesso. Falta de respeito. Falta de consideração às outras pessoas. Falta de amor. Falta de limites. O retrato da juventude brasileira no século XXI.

O pior é perceber que esses mesmos jovens, ali na esquina, serão os empresários, os médicos, os administradores, os políticos deste País. Que futuro tem o Brasil... Que presente temos nós...

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