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quinta-feira, 26 de julho de 2007

E agora, Jobim?!

Lula empossou Nelsou Jobim ministro da Defesa - ou, como genialmente escreveu hoje o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, "Jobim assume a crise aérea". Autoridade, inteligência, disciplina. Essas são as principais palavras associadas a ele.

Autoridade. Do Houaiss, direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer. Isso anda em falta no Brasil, principalmente no que se refere à crise aérea. Alguém que tome decisões, cobre realizações e assuma conseqüências. Pode ser bom.

Inteligência. Do Houaiss, faculdade de conhecer, compreender e aprender. Isso anda muito em falta no Brasil, principalmente no que se refere à crise aérea. Conhecer os problemas, compreender as atitudes necessárias e aprender com os erros, seus e dos outros. E para não falar / fazer abobrinhas. Pode ser bom.

Disciplina. Do Houaiss, obediência às regras e aos superiores. Isso anda muito em falta no Brasil, principalmente no que se refere ao poder público. Disciplina para cumprir o combinado, para cumprir a lei. Pode ser bom.

Autoridade, inteligência, disciplina. É disso que o Brasil, principalmente o setor aéreo, precisa nesse momento. Há quem diga que ele não tem competência para organizar um setor em crise há tempo demais. Que lhe falta conhecimento sobre aviação. Bom, se isso fosse sinônimo de sucesso, Juniti Saito e o brigadeiro José Carlos Pereira, homens do ar, teriam impedido que a situação chegasse onde está.

“Nunca se queixe, nunca explique, nunca se desculpe. Aja ou saia. Faça ou vá embora”, afirmou Jobim, reproduzindo uma frase do ex-primeiro ministro inglês, Benjamim Disraelli. Gostei.
Jobim não vai salvar a pátria. Mas talvez leve um pouco de ordem a esse caos. Talvez, seja um gestor, no mais amplo sentido da palavra.

Pelo bem do Brasil, desejo-lhe sucesso.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Dia do Amigo

Recebi via internet, há muito tempo, um texto que se chamava Meus secretos amigos, ou algo parecido. Fala exatamente o que penso dos meus próprios amigos. O autor diz, mais ou menos, isto:
Amo-os. Sempre. Mesmo aqueles que eu não procuro. Torço, ainda que à distância, pelo seu sucesso, vibro com suas conquistas, compartilho suas tristezas. Me deixa feliz apenas sabê-los vivos. Às vezes, penso que deveríamos nos ver mais, mas a vida tem dessas coisas de nos afastar de quem gostamos.

Para completar esse Dia do Amigo, poesia:

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Soneto do amigo, de Vinicius de Moraes

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Sensacional...

Eu poderia aqui levantar mil hipóteses, bradar hinos de revolta, tentar encotrar palavras de consolo às famílias. Só não posso é silenciar diante do absurdo que foi o acidente com o vôo JJ 3054 da TAM. Já tive pensamentos mil. Julguei, absolvi e condenei. Mas guardo as sentenças comigo.
Como (projeto de) jornalista, escolhi outro prisma para esse fato. Decidi analisar a atuação dos nobres colegas diante da tragédia. O que se viu desde às 19h07min de terça-feira - quando o plantão da Globo foi ao ar pela primeira vez - foi despreparo e sensacionalismo. Pelo menos na maioria dos jornalistas.
Despreparo para lidar com o ao vivo. Falta de improvisação. Gaguejar, principalmente diante de tão tristes informações, é normal. É humano. O que me espantou foi a péssima ordenação das idéias e a falta de criatividade - em alguns casos, até de bom senso - nas perguntas durante as entrevistas. Não sabem lidar com a falha, seja sua ou técnica. Esse povo de televisão está muito acostumado ao gravando. Isso é um perigo.
Sensacionalista. A princípio, este é o mote de todo jornalismo: provocar sensação. Mas esse termo tornou-se pejorativo, relacionando-se àqueles que usam quaisquer artifícios por audiência. E eu vi isso durante essa semana. Mostrar, repetidas vezes, famílias se contorcendo da dor da perda sempre precoce de seus amados é, no mínimo, falta de respeito. Não acrescentou nada à notícia. Não nos deixou mais chocados, porque os telespectadores já estavam às lágrimas. E perdeu a oportunidade de fazer bom jornalismo sem usar pessoas.
Fiquei preocupada. Torço e faço o que estiver ao meu alcance para que a academia perceba que tipo de profissionais estão formando. E para que os profissionais atentem para o que estão fazendo.
Informação, sim. Desrespeito, não, obrigada.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Esclarecimento

Diversas pessoas - pouco ou muito esclarecidas - têm afirmado que restringir o horário do transporte de valores não resolve o problema da segurança pública. Ora, ninguém imaginou que resolveria! Para isso, como bem afirmou Políbio Braga na sua newsletter dessa segunda-feira (9), é necessário vontade política e competência para fazê-lo.
Mas, enquanto esse governo - bem como a maioria dos que o antecederam - não evolui nos quesitos citados, a sociedade não quer se deparar com pessoas morrendo a cada semana em situações que poderiam ser facilmente evitadas. Os familiares e amigos de Cristiana Cupini não pretendem solucionar o problema da segurança pública com a alteração dos horários do transporte de valores. Querem apenas que menos gente fique exposta ao risco de assalto.
Os ataques a carros-fortes provavelmente não cessarão nunca. O PLCL 06/07 - projeto do vereador Professor Garcia (PPS), em tramitação da Câmara Municipal de Porto Alegre - só pretende evitar que a população desprotegida fique à mercê do tiroteio. Deixemos esse risco restrito aos vigilantes, treinados e equipados para enfrentá-lo, à Brigada Militar (um pouco menos equipada, mas também treinada) e até à Guarda Municipal porto-alegrense, que já tem licença para utilizar armas.
Não vamos resolver o problema, vamos minimizá-lo. É apenas isso que podemos agora.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

PASSEATA POR CRISTIANA CUPINI

Neste domingo, 8 de julho, a partir das 17h30min, será realizada uma passeata em memória de Cristiana Cupini (leia post abaixo). A saída é da frente do Unibanco da avenida Assis Brasil, onde Cristiana foi assassinada. Já estão confirmadas as presenças do Prefeito e do Vice-prefeito de Porto Alegre. Depois, ocorrerá uma missa por Cristiana, às 19h, na Igreja Cristo Redentor.
Quem puder, participe.
Na ocasião, circulará um abaixo-assinado para aprovação do projeto de lei complementar 06/07, para restringir a circulação de carros-fortes em locais de grande circulação de pedestres.

De uma família dilacerada

"Na última segunda-feira, 3 de julho, nossa querida KUKI foi vítima de uma tragédia que está mobilizando a opinião pública. Ela foi assassinada em meio a um tiroteio num assalto frustrado a um carro-forte.
Cristiana Cupini foi mais uma vítima do descado com a segurança pública e da impunidade. Não podemos cruzar os braços diante de mais esse absurdo.
Estamos iniciando um abaixo-assinado para que o projeto de lei que proíbe o transporte de valores em horário comercial seja votado e implantado com urgência, para que mais vidas inocentes não sejam ceifadas e famílias inteiras dilaceradas."

Eu não conheço Cristiana Cupini. Tenho alguns amigos que são próximos da família dela. Mas não faz diferença. Cristiana tinha 22 anos, trabalhava em uma loja de uma grande rede de departamentos, cursava Administração de Empresas em uma faculdade particular, tinha namorado. Tinha ido ao banco fazer um depósito. Familiar essa situação, né?! Poderia ser eu, meu irmão, seu irmão, você. Ela foi morta com um tiro na cabeça por um assaltante que fugiu. Isso é justo? Não.

Não podemos mudar os fatos. Mas podemos evitar que eles voltem a ocorrer. Há um projeto de lei em tramitação na Câmara Municipal de Porto Alegre, de autoria do vereador Professor Garcia (PPS), que restringe a circulação de carros-fortes em horário comercial nos locais de grande circulação de pedestres e próximo a escolas. Isso não evitará os assaltos a carros-fortes, mas poderá expor menos gente ao risco. O projeto já foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e deve ir a plenário em breve. O abaixo-assinado da família Cupini pretende agilizar esse processo. Eu vou assinar. Quem sabe, assim, evitamos mais famílias chorando a morte de seus queridos.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Liberdade - Igualdade - Fraternidade

A Petrobras anunciou, recentemente, que os seus funcionários podem incluir parceiros do mesmo sexo como dependentes no plano de saúde. Infelizmente, isso ainda é notícia, quando deveria ser obrigação das empresas reconhecerem parceiros do mesmo sexo como constituintes de uma família. Pelo menos, o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) também já adotou esse princípio de igualdade para pagamento de pensão.
Que bom, o País avança no sentido da tolerância, da liberdade. Mas não avança muito.
Foi rumor em todas as mídias o fato de que o jogador Richarlyson, do São Paulo, seria homossexual. Houve um disse-que-disse, porque o Richarlyson mesmo não falou nada e não vai falar. A pérola da semana saiu do empresário do jogador: "Isso é boato. Eu conheço o caráter dele". Então!!! Orientação sexual agora é questão de caráter?!?! Homossexual não é boa gente?! Em que mundo esse senhor vive??!!!!!! Eu espero, sinceramente, que as ONGs da causa GLTB se manifestem e processem esse infeliz. Isso não vai mudar o que ele pensa, mas pelo menos o fará pensar duas vezes antes de expor os seus preconceitos.
Enfim. Igualdade e liberdade em um momento. Discriminação e intolerância a seguir. Ainda estamos longe de uma sociedade verdadeiramente humana.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Distorções II

Segundo pesquisa divulgada nessa semana pela Universidade de São Paulo (USP), 76% dos brasileiros desconfiam do Congresso Nacional. Dando uma olhada no noticiário recente - entenda-se por recente desde o início de 2006 -, não é difícil encontrar a razão. Notas frias para comprovar gastos incompatíveis, divisão de R$ 2,2 milhões de origem desconhecida, compra de dossiês, hipótese - derrubada, graças aos céus e à imprensa - de aumento de 98% nos próprios salários. Enfim, um festival de usurpação, corrupção, impunidade e cara-de-pau.

O difícil é acreditar que mesmo reprovado, o Congresso Nacional continue agindo da mesma maneira. Engavetamento de denúncias, relativização de escândalos... A reforma política, que tentaria trazer um pouco de moralidade a esse deboche parlamentar, foi esquecida, abafada pelas suspeitas envolvendo nobres Senadores da República. Faltando duas semanas para o recesso de inverno, artimanhas para prolongar o assunto até lá não vão faltar. Para, então, caírem no esquecimento enquanto se aguarda o próximo escândalo. E, mais uma vez, os suspeitos não serão investigados, os culpados não serão punidos e os patetas-eleitores voltarão a se preocupar com o próximo casamento entre as celebridades.

É, Herbert Viana, que país é esse?!

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Da relação com a televisão à morte do jornal impresso

No capítulo 2 do livro A arte de fazer um jornal diário, subtítulo Valores preservados, o jornalista Ricardo Noblat se refere à importância da imprensa para validar os fatos. Segundo o autor, antes da existência da televisão, as situações só ganhavam o status de acontecimento quando publicados nos jornais. Depois, esse papel começou a ser da televisão.

A partir disso, a mídia impressa passou a se pautar pelos telejornais e demais programas televisivos. E essa relação entre as duas mídias, na visão do autor - com a qual compactuo -, é o principal problema do jornalismo praticado atualmente nas redações.

O jornalista retrata, então, o que leva a televisão a veicular determinados fatos. Fica claro que o perfil da televisão é diferente do jornal. No primeiro, a audiência determina a importância do veículo. No segundo, não. Um jornal pode ser o mais influente de uma região sem ser o mais lido.

Essa situação – de precisar excessivamente da audiência para se firmar – faz com que o interesse da televisão pelos fatos seja meramente mercantil. Ou seja, é notícia o que dá altos índices no Ibope, não o que faz diferença na vida de mais pessoas, como aprendemos na faculdade sobre graduação de notícia. Esse deveria ser um dos diferenciais favoráveis aos impressos. Mas os próprios profissionais dessa mídia não se ocupam do tema.

Os jornais não dão a notícia em primeira mão: a Internet e o rádio, pela instantaneidade, são os primeiros. A televisão vem a seguir. O impresso só circulará amanhã com as notícias de hoje. Esse tempo deveria privilegiar a investigação, o trabalho aprofundado de reportagem, a pesquisa histórica, tornando o jornal diferente das outras mídias e não sua mera continuidade.

Entender esse processo e pensar em como modificá-lo é o papel dos novos jornalistas como nós. O tema deve estar presente nos meios acadêmicos, sindicais e dentro das redações, afinal o impresso está morrendo - Ricardo Noblat cita dados sobre a queda na venda e na publicidade dos jornais. E a principal causa para isso é não ter percebido o seu lugar dentro de um novo cenário. Se não quisermos ser a geração que ajudou a enterrar os jornais, tomarmos para nós o desafio de mudá-los é o primeiro passo.

PS: O livro A arte de fazer um jornal diário, de Ricardo Noblat, é leitura obrigatória para estudantes e profissionais do Jornalismo. Texto bem escrito somado a boas idéias.

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