Junho de 2007, Barra da Tijuca, zona nobre do Rio de Janeiro. Uma empregada doméstica aguardo o ônibus que a levaria ao médico. Levaria. Um bando de universitários inconseqüentes encosta o carro e a espanca. Motivo? "Achamos que ela era prostituta".
Junho de 2007, Dom Pedrito, interior do Rio Grande do Sul. Garotos falam sobre o futebol gaúcho, de intensa atividade nos últimos tempos. A conversa evolui para a discussão. A discussão desemboca (dizer evolui seria uma ofensa) em pancadaria. Um dos meninos, negro, é espancado até agonizar. Apesar de ser levado ao hospital, não resiste. O médico legista se impressiona com o estado dos pulmões da vítima, destruído pelas costelas quebradas a chutes.
Em ambos os casos, garotos de classe média alta. Em ambos os casos, vítimas inocentes. Em ambos os casos, desrespeito ao outro. A justificativa de que pensaram que era uma prostituta aumenta a sensação de absurdo. E se fosse uma prostituta, merecia apanhar então??? O pai de um deles argumentou que seu filho não era um marginal para ir para a prisão. Ora, se não é um marginal, o que é então? Esse pai deveria ter sido preso junto, afinal não passou valores éticos e morais para seu filho. É co-responsável pela quase tragédia, que se consumou em Dom Pedrito.
Liberdade em excesso. Falta de respeito. Falta de consideração às outras pessoas. Falta de amor. Falta de limites. O retrato da juventude brasileira no século XXI.
O pior é perceber que esses mesmos jovens, ali na esquina, serão os empresários, os médicos, os administradores, os políticos deste País. Que futuro tem o Brasil... Que presente temos nós...